“Antes,
sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos
outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós, como oferta
e sacrifício a Deus, em aroma suave” Efésios
4:32 – 5:2 (NAA)
Acabamos
de passar pela Páscoa, uma das maiores expressões visíveis do perdão de Deus —
realizado da maneira mais inusitada e extraordinária que se pode conceber: o
Ofendido se entregando ao ofensor. A cruz se torna, então, como uma travessia
sobre um abismo moral e espiritual, onde a iniciativa do perdão não parte de
quem causou a ofensa, mas sim de quem a sofreu. Deus não esperou um clamor de arrependimento
para amar; antes, “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por
nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).
O
verdadeiro perdão não deve ser uma concessão arrancada do coração do ofendido
por súplicas do ofensor, mas um presente generoso ofertado pelo próprio
ofendido, à semelhança de Jesus — nosso modelo e nosso Senhor — que orou: “Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). E não somente
Jesus deu este exemplo; Estêvão, o primeiro mártir cristão, cheio do Espírito
Santo, enquanto era apedrejado, clamou: “Senhor, não lhes imputes este pecado”
(Atos 7:60).
O
perdão é uma forma de misericórdia encarnada, uma bondade ofertada como fruto
maduro de um coração que reconhece ter sido primeiramente perdoado. É consciência
da graça recebida, é memória viva do custo daquele perdão: o sangue do Cordeiro
inocente, vertido por nós. Como está escrito: “Sede uns para com os outros
benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos
perdoou em Cristo” (Efésios 4:32).
Se
o Senhor, ofendido em sua santidade e justiça, não se fez surdo à humanidade,
que nem ao menos sabia que precisava de perdão, por que nós, que fomos
alcançados por tamanha graça, não perdoaríamos generosamente aqueles que nos
fizeram ou tentaram fazer algum mal?
Perdoar
não é ignorar a dor, mas é superar o mal com o bem (Romanos 12:21), é
ser livre do ciclo de ódio, é permitir que a cruz fale mais alto que o orgulho.
É, sobretudo, viver como quem entende a cruz não apenas como evento redentor,
mas como estilo de vida cristã: crucificar o ego para deixar o amor
ressuscitar.