quarta-feira, 23 de abril de 2025

O Perdão: Expressão Suprema da Graça

 

Por Jânsen Leiros Jr.

“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”
Efésios 4:32 – 5:2 (NAA)

Acabamos de passar pela Páscoa, uma das maiores expressões visíveis do perdão de Deus — realizado da maneira mais inusitada e extraordinária que se pode conceber: o Ofendido se entregando ao ofensor. A cruz se torna, então, como uma travessia sobre um abismo moral e espiritual, onde a iniciativa do perdão não parte de quem causou a ofensa, mas sim de quem a sofreu. Deus não esperou um clamor de arrependimento para amar; antes, “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).

O verdadeiro perdão não deve ser uma concessão arrancada do coração do ofendido por súplicas do ofensor, mas um presente generoso ofertado pelo próprio ofendido, à semelhança de Jesus — nosso modelo e nosso Senhor — que orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). E não somente Jesus deu este exemplo; Estêvão, o primeiro mártir cristão, cheio do Espírito Santo, enquanto era apedrejado, clamou: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7:60).

O perdão é uma forma de misericórdia encarnada, uma bondade ofertada como fruto maduro de um coração que reconhece ter sido primeiramente perdoado. É consciência da graça recebida, é memória viva do custo daquele perdão: o sangue do Cordeiro inocente, vertido por nós. Como está escrito: “Sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Efésios 4:32).

Se o Senhor, ofendido em sua santidade e justiça, não se fez surdo à humanidade, que nem ao menos sabia que precisava de perdão, por que nós, que fomos alcançados por tamanha graça, não perdoaríamos generosamente aqueles que nos fizeram ou tentaram fazer algum mal?

Perdoar não é ignorar a dor, mas é superar o mal com o bem (Romanos 12:21), é ser livre do ciclo de ódio, é permitir que a cruz fale mais alto que o orgulho. É, sobretudo, viver como quem entende a cruz não apenas como evento redentor, mas como estilo de vida cristã: crucificar o ego para deixar o amor ressuscitar. 

terça-feira, 1 de abril de 2025

A Presença de Deus e o Paradoxo da Fé

 

Por Jânsen Leiros Jr.

“Disse o SENHOR a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que tiraste da terra do Egito, para a terra a respeito da qual jurei a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: à tua descendência a darei. Enviarei o Anjo adiante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe para uma terra que mana leite e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho.” Êxodo 33:1-3

As civilizações se estruturam sobre promessas. Governos, instituições, famílias e até projetos individuais nascem da esperança de um futuro melhor, sustentado pela expectativa de segurança e estabilidade. Desde os primórdios, a humanidade tem buscado solidez em pactos, bens materiais e no poder. A promessa de um futuro próspero, seja no campo social ou pessoal, é o que move o homem a agir.

Há algo, no entanto, que transcende as promessas terrenas e efêmeras. O grande dilema está em perceber que, mesmo quando todas as promessas aparentemente se cumprem — como a prosperidade material ou a segurança social —, se a promessa mais importante, aquela que realmente toca a essência do ser humano não for cumprida, tudo o mais será vazio. O que acontece quando o cumprimento das promessas se dá à custa da perda daquilo que é essencial e dá sentido à vida?

Israel estava diante do maior paradoxo da fé: a realização de tudo o que Deus prometera e, ao mesmo tempo, a possibilidade de perder o próprio Deus no caminho. O povo teria terra, vitória, riqueza, um destino glorioso. Mas sem a presença de Deus. E isso muda tudo.

Moisés entendeu o que muitos jamais compreenderão. Ele não queria apenas o que Deus pode dar, mas o próprio Deus. Suas palavras são definitivas: Se a tua presença não for conosco, não nos faças subir daqui (Êxodo 33:15). Moisés não negociava com o Eterno. Ele sabia que uma terra sem Deus seria apenas território, uma promessa sem Deus seria só um contrato vazio. A verdadeira herança de Israel não era Canaã, mas a comunhão com o Senhor.

Esse princípio perpassa toda a Escritura. Os profetas repetiram a mesma advertência: rituais, templos e prosperidade sem Deus não valem nada (Isaías 1:11-15, Amós 5:21-24). Jesus, confrontando os fariseus, mostrou que era possível ter toda a Lei e ainda assim estar distante do Pai (Mateus 23:23-28). Paulo, ao analisar sua própria trajetória, declarou que todo status e toda conquista eram lixo diante do conhecimento de Cristo (Filipenses 3:7-8).

O drama de Moisés se reflete em cada um de nós. O que buscamos? Sucesso, estabilidade, reconhecimento? Se Deus nos dissesse: "Tome tudo, mas sem minha presença", o que responderíamos? Quem aceitaria? Mas a resposta correta é a única que faz sentido: sem Deus, nada disso importa.

A resposta de Deus a Moisés revela o coração da aliança: A minha presença irá contigo e eu te darei descanso (Êxodo 33:14). Esse descanso não se trata apenas de alívio das lutas diárias, mas de um repouso profundo e definitivo, ecoando a promessa de Hebreus 4:9-10: "Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas". A verdadeira paz não está na conquista, mas na relação com Deus.

Esse dilema se replica também em nossa sociedade atual. Quantos não buscam segurança e realização em dinheiro, status, carreiras bem-sucedidas ou até em uma religiosidade vazia? Igrejas cheias de programas e eventos, mas vazias da presença de Deus. Ministérios que prosperam financeiramente, mas estão espiritualmente falidos. Famílias que conquistam bens, mas perdem o essencial. Se nos contentamos com a "terra prometida" sem Deus, estamos repetindo o erro de Israel.

O dilema de Moisés é o nosso. Podemos ter tudo sem Deus e ainda assim estar vazios. Ou podemos ter apenas Deus, e isso nos bastará. Uma decisão nunca foi tão urgente.