Por Jânsen Leiros Jr.
“Disse
o SENHOR a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que tiraste da terra do Egito,
para a terra a respeito da qual jurei a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: à
tua descendência a darei. Enviarei o Anjo adiante de ti; lançarei fora os
cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe
para uma terra que mana leite e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és
povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho.”
Êxodo
33:1-3
As
civilizações se estruturam sobre promessas. Governos, instituições, famílias e
até projetos individuais nascem da esperança de um futuro melhor, sustentado
pela expectativa de segurança e estabilidade. Desde os primórdios, a humanidade
tem buscado solidez em pactos, bens materiais e no poder. A promessa de um
futuro próspero, seja no campo social ou pessoal, é o que move o homem a agir.
Há
algo, no entanto, que transcende as promessas terrenas e efêmeras. O grande
dilema está em perceber que, mesmo quando todas as promessas aparentemente se
cumprem — como a prosperidade material ou a segurança social —, se a promessa
mais importante, aquela que realmente toca a essência do ser humano não for
cumprida, tudo o mais será vazio. O que acontece quando o cumprimento das
promessas se dá à custa da perda daquilo que é essencial e dá sentido à vida?
Israel
estava diante do maior paradoxo da fé: a realização de tudo o que Deus
prometera e, ao mesmo tempo, a possibilidade de perder o próprio Deus no
caminho. O povo teria terra, vitória, riqueza, um destino glorioso. Mas sem a
presença de Deus. E isso muda tudo.
Moisés
entendeu o que muitos jamais compreenderão. Ele não queria apenas o que Deus
pode dar, mas o próprio Deus. Suas palavras são definitivas: Se a tua
presença não for conosco, não nos faças subir daqui (Êxodo 33:15). Moisés
não negociava com o Eterno. Ele sabia que uma terra sem Deus seria apenas
território, uma promessa sem Deus seria só um contrato vazio. A verdadeira
herança de Israel não era Canaã, mas a comunhão com o Senhor.
Esse
princípio perpassa toda a Escritura. Os profetas repetiram a mesma advertência:
rituais, templos e prosperidade sem Deus não valem nada (Isaías 1:11-15, Amós
5:21-24). Jesus, confrontando os fariseus, mostrou que era possível ter toda a
Lei e ainda assim estar distante do Pai (Mateus 23:23-28). Paulo, ao analisar
sua própria trajetória, declarou que todo status e toda conquista eram lixo
diante do conhecimento de Cristo (Filipenses 3:7-8).
O
drama de Moisés se reflete em cada um de nós. O que buscamos? Sucesso,
estabilidade, reconhecimento? Se Deus nos dissesse: "Tome tudo, mas sem
minha presença", o que responderíamos? Quem aceitaria? Mas a resposta
correta é a única que faz sentido: sem Deus, nada disso importa.
A
resposta de Deus a Moisés revela o coração da aliança: A minha presença irá
contigo e eu te darei descanso (Êxodo 33:14). Esse descanso não se trata apenas
de alívio das lutas diárias, mas de um repouso profundo e definitivo, ecoando a
promessa de Hebreus 4:9-10: "Portanto, resta um repouso para o povo de
Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou
de suas obras, como Deus das suas". A verdadeira paz não está na
conquista, mas na relação com Deus.
Esse
dilema se replica também em nossa sociedade atual. Quantos não buscam segurança
e realização em dinheiro, status, carreiras bem-sucedidas ou até em uma
religiosidade vazia? Igrejas cheias de programas e eventos, mas vazias da
presença de Deus. Ministérios que prosperam financeiramente, mas estão
espiritualmente falidos. Famílias que conquistam bens, mas perdem o essencial.
Se nos contentamos com a "terra prometida" sem Deus, estamos
repetindo o erro de Israel.
O
dilema de Moisés é o nosso. Podemos ter tudo sem Deus e ainda assim estar
vazios. Ou podemos ter apenas Deus, e isso nos bastará. Uma decisão nunca
foi tão urgente.